O cortiço


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Leôncio impaciente e com o coração ardendo nas chamas de uma paixão febril e delirante não podia resignar-se a adiar por mais tempo a satisfação de seus libidinosos desejos. Vagando daqui para ali por toda a casa como quem dava ordens para reformar o serviço doméstico, que dai em diante ia correr todo por sua conta, não fazia mais do que espreitar todos os movimentos de Isaura, procurando ocasião de achá-la a sós para insistir de novo e com mais força em suas abomináveis pretensões. De uma janela viu as escravas fiandeiras atravessarem o pátio para irem jantar, e notou a ausência de Isaura.
Leôncio, impatient et le cœur brûlant des flammes d'une passion fébrile et délirante, ne pouvait se résigner à différer plus longtemps la satisfaction de ses désirs libidineux. Errant de-ci de-là à travers la maison comme s'il ordonnait de réformer le service domestique, désormais entièrement autonome, il ne faisait qu'épier les moindres gestes d'Isaura, cherchant l'occasion de la retrouver seule pour insister encore et avec plus de force sur leurs abominables prétentions. D'une fenêtre, il vit les esclaves fileuses traverser la cour pour aller dîner, et il remarqua l'absence d'Isaura.

— Bom!... vai tudo às mil maravilhas, murmurou Leôncio com satisfação; nesse momento passava-lhe pela mente a feliz lembrança de mandar o feitor levar as outras escravas para o cafezal, ficando ele quase a sós com Isaura no meio daqueles vastos e desertos edifícios.
"Bien !... Tout va parfaitement", murmura Leôncio avec satisfaction ; A cet instant, l'heureux souvenir d'avoir envoyé le contremaître emmener les autres esclaves à la plantation de café lui traversa l'esprit, le laissant presque seul avec Isaura au milieu de ces vastes bâtiments déserts.

— Dir-me-ão que, sendo Isaura uma escrava, Leôncio, para achar-se a sós com ela não precisava de semelhantes subterfúgios, e nada mais tinha a fazer do que mandá-la trazer à sua presença por bem ou por mal. Decerto ele assim podia proceder, mas não sei que prestígio tem, mesmo em uma escrava, a beleza unida à nobreza da alma, e à superioridade da inteligência, que impõe respeito aos entes ainda os mais perversos e corrompidos. Por isso Leôncio, a despeito de todo o seu cinismo e obcecação, não podia eximir-se de render no fundo d'alma certa homenagem à beleza e virtudes daquela escrava excepcional, e de tratá-la com mais alguma delicadeza do que às outras.
« On me dira que, Isaura étant esclave, Léontius, pour se retrouver seul avec elle, n'avait pas besoin de pareils subterfuges, et n'avait rien d'autre à faire que d'ordonner qu'on l'amenât devant lui par hameçon ou par escroc." Certes, il aurait pu le faire, mais je ne sais quel prestige ont, même chez un esclave, la beauté unie à la noblesse de l'âme, et la supériorité de l'intelligence, qui force le respect même aux êtres les plus pervers et les plus corrompus. C'est pourquoi Léontius, malgré tout son cynisme et son obsession, ne pouvait s'empêcher de rendre un certain hommage au plus profond de son âme à la beauté et aux vertus de cette esclave exceptionnelle, et de la traiter avec un peu plus de délicatesse que les autres.

— Isaura, — disse Leôncio, continuando o diálogo que deixamos apenas encetado, — fica sabendo que agora a tua sorte está inteiramente entre as minhas mãos. — Sempre esteve, senhor, — respondeu humildemente Isaura. — Agora mais que nunca. Meu pai é falecido, e não ignoras que sou eu o seu único herdeiro. Malvina por motivos, que sem dúvida terás adivinhado, acaba de abandonar-me, e retirou-se para a casa de seu pai. Sou eu, pois, que hoje unicamente governo nesta casa, e disponho do teu destino. Mas também, Isaura, de tua vontade unicamente depende a tua felicidade ou a tua perdição. — De minha vontade!... oh! não, senhor; minha sorte depende unicamente da vontade de meu senhor.
"Isaura," dit Leôncio, poursuivant le dialogue que nous venions d'entamer, "sache que maintenant ton destin est entièrement entre mes mains." « Ça a toujours été le cas, monsieur, » répondit Isaura docilement. "Maintenant plus que jamais. Mon père est mort, et vous savez que je suis son unique héritier. Malvina, pour des raisons que vous avez sans doute devinées, vient de m'abandonner et de se retirer dans la maison de son père. C'est donc moi qui aujourd'hui seul gouverne cette maison, et je dispose de votre destinée. Mais aussi, Isaura, de ta volonté seule dépend ton bonheur ou ta perte. — De ma volonté !... oh ! non monsieur; mon sort dépend uniquement de la volonté de mon seigneur.

— E eu bem desejo - replicou Leôncio com a mais terna inflexão de voz, — com todas as forças de minha alma, tornar-te a mais feliz das criaturas; mas como, se me recusas obstinadamente a felicidade, que tu, só tu me poderias dar?... — Eu, senhor?! oh! por quem é, deixe a humilde escrava em seu lugar; lembre-se da senhora D. Malvina, que é tão formosa, tão boa, e que tanto lhe quer bem. É em nome dela que lhe peço, meu senhor; deixe de abaixar seus olhos para uma pobre cativa, que em tudo está pronta para lhe obedecer, menos nisso, que o senhor exige...
– Et je désire ardemment, répondit Léontius avec l'inflexion la plus tendre de sa voix, de toute la force de mon âme, faire de toi la plus heureuse des créatures ; mais comment, si vous me refusez obstinément le bonheur que vous seul pourriez me donner ?... — Moi, monsieur ?! Oh! pour qui c'est, laissez l'humble esclave à sa place ; souviens-toi de Mme D. Malvina, qui est si belle, si bonne et qui t'aime tant. C'est en son nom que je vous demande, monseigneur ; cessez de baisser les yeux sur un pauvre captif, qui est prêt à vous obéir en tout, sauf en ce que le seigneur exige...

— Escuta, Isaura; és muito criança, e não sabes dar ás coisas o devido peso. Um dia, e talvez já tarde, te arrependerás de ter rejeitado o meu amor., — Nunca! - exclamou Isaura. — Eu cometeria uma traição infame para com minha senhora, se desse ouvidos às palavras amorosas de meu senhor. — Escrúpulos de criança!... escuta ainda, Isaura. Minha mãe vendo a tua linda figura e a viveza de teu espírito, — talvez por não ter filha alguma, — desvelouse em dar-te uma educação, como teria dado a uma filha querida. Ela amava-te extremosamente, e se não deu-te a liberdade foi com o receio de perder-te; foi para conservar-te sempre junto de si. Se ela assim procedia por amor, como posso eu largar-te de mão, eu que te amo com outra sorte de amor muito mais ardente e exaltado, um amor sem limites, um amor que me levará à loucura ou ao suicídio, se não... mas que estou a dizer!... Meu pai, — Deus lhe perdoe, – levado por uma sórdida avareza, queria vender tua liberdade por um punhado de ouro, como se houvesse ouro no mundo que valesse os inestimáveis encantos, de que os céus te dotaram. — Profanação!... eu repeliria, como quem repele um insulto, todo aquele que ousasse vir oferecer-me dinheiro pela tua liberdade. Livre és tu, porque Deus não podia formar um ente tão perfeito para votá-lo à escravidão. Livre és tu, porque assim o queria minha mãe, e assim o quero eu. Mas, Isaura, o meu amor por ti é imenso; eu não posso, eu não devo abandonar-te ao mundo. Eu morreria de dor, se me visse forçado a largar mão da jóia inestimável, que o céu parece ter-me destinado, e que eu há tanto tempo rodeio dos mais ardentes anelos de minha alma...
— Écoute, Isaura ; tu es trop jeune et tu ne sais pas donner aux choses leur juste poids. Un jour, et peut-être trop tard, tu regretteras d'avoir rejeté mon amour. — Jamais ! - s'écria Isaura. « Je commettrais une honteuse trahison envers ma dame si je tenais compte des paroles d'amour de mon seigneur. — Scrupules d'enfants !... Écoute encore, Isaura. Ma mère, voyant votre belle taille et la vivacité de votre esprit, — peut-être parce qu'elle n'avait pas de fille du tout — a pris soin de vous donner une éducation, comme elle aurait donné une fille bien-aimée. Elle t'aimait tendrement, et si elle ne t'a pas donné la liberté, c'est par peur de te perdre ; c'était pour te garder toujours près de lui. Si elle a agi ainsi par amour, comment pourrais-je lâcher ta main, moi qui t'aime d'un autre amour beaucoup plus ardent et exalté, un amour sans limites, un amour qui me conduira à la folie ou au suicide, si non... mais que dis-je !... Mon père, — Dieu lui pardonne, — poussé par une avarice sordide, a voulu vendre votre liberté pour une poignée d'or, comme s'il y avait de l'or au monde qui vaille l'inestimable charmes dont les cieux vous ont dotés. — Profanation !... Je repousserais, comme on repousse une injure, quiconque oserait venir m'offrir de l'argent pour votre liberté. Libre êtes-vous, car Dieu n'a pas pu former un être si parfait pour le reléguer en esclavage. Tu es libre, parce que c'est comme ça que ma mère le voulait, et c'est comme ça que je le veux. Mais, Isaura, mon amour pour toi est immense ; Je ne peux pas, je ne dois pas t'abandonner au monde. Je mourrais de douleur si j'étais forcé de lâcher le joyau inestimable que le Ciel semble m'avoir destiné, et que j'ai si longtemps entouré des désirs les plus ardents de mon âme...

— Perdão, senhor; eu não posso compreendé-lo; diz-me que sou livre, e não permite que eu vá para onde quiser, e nem ao menos que eu disponha livremente de meu coração?! — Isaura, se o quiseres, não serás somente livre; serás a senhora, a deusa desta casa. Tuas ordens, quaisquer que sejam, os teus menores caprichos serão pontualmente cumpridos; e eu, melhor do que faria o mais terno e o mais leal dos amantes, te cercarei de todos os cuidados e carinhos, de todas as adorações, que sabe inspirar o mais ardente e inextinguível amor. Malvina me abandona!... tanto melhor! em que dependo eu dela e de seu amor, se te possuo?! Quebrem-se de uma vez para sempre esses laços urdidos pelo interesse! esqueça-se para sempre de mim, que eu nos braços de minha Isaura encontrarei sobeja ventura para poder lembrar-me dela.
« Je vous demande pardon, monsieur ; Je ne peux pas le comprendre; dites-moi que je suis libre, et que vous ne me permettez pas d'aller où je veux, ou même que je dispose librement de mon cœur ? ! — Isaura, si tu le veux, tu ne seras pas seulement libre ; tu seras la maîtresse, la déesse de cette maison. Vos commandes, quelles qu'elles soient, vos moindres caprices seront ponctuellement exaucés ; et moi, mieux que le plus tendre et le plus loyal des amants, je t'entourerai de tous les soins et de toute l'affection, de toute l'adoration qui savent inspirer l'amour le plus ardent et le plus inextinguible. Malvina m'abandonne !... tant mieux ! de quoi dépends-je d'elle et de son amour, si je te possède ?! Brisez une bonne fois pour toutes ces liens tissés par l'intérêt ! oublie-moi à jamais, que je trouverai dans les bras de mon Isaura assez de bonheur pour pouvoir me souvenir d'elle.

— O que o senhor acaba de dizer me horroriza. Como se pode esquecer e abandonar ao desprezo uma mulher tão amante e carinhosa, tão cheia de encantos e virtudes, como sinhá Malvina? Meu senhor, perdoe-me se lhe falo com franqueza; abandonar uma mulher bonita, fiel e virtuosa por amor de uma pobre escrava, seria a mais feia das ingratidões.
« Ce que vous venez de dire me fait horreur. Comment oublier et abandonner au mépris une femme aussi aimante et affectueuse, aussi pleine de charmes et de vertus que Miss Malvina ? Monseigneur, pardonnez-moi si je vous parle franchement ; Abandonner une femme belle, fidèle et vertueuse pour l'amour d'une pauvre esclave serait la plus laide des ingratitudes.

A tão severa e esmagadora exprobração, Leôncio sentiu revoltar-se o seu orgulho. escrava insolente! — bradou cheio de cólera. – Que eu suporte sem irritarme os teus desdéns e repulsas, ainda vá: mas repreensões!... com quem pensas tu que falas?... — Perdão! senhor!... exclamou Isaura aterrada e arrependida das palavras que lhe tinham escapado.
A un reproche aussi sévère et écrasant, Léontius sentit son orgueil se révolter. esclave insolent ! cria-t-il, plein de rage. – Puis-je supporter votre dédain et votre répulsion sans m'irriter, allez quand même : mais des reproches !... à qui croyez-vous parler ?... - Excusez-moi ! Monsieur !... s'écria Isaura, terrifiée et regrettant les paroles qui lui avaient échappé.

— E, entretanto, se te mostrasses mais branda comigo... mas não, é muito aviltar-me diante de uma escrava; que necessidade tenho eu de pedir aquilo que de direito me pertence? Lembra-te, escrava ingrata e rebelde, que em corpo e alma me pertences, a mim só e a mais ninguém. És propriedade minha; um vaso, que tenho entre as minhas mãos e que posso usar dele ou despedaçá-lo a meu sabor. — Pode despedaçá-lo, meu senhor; bem o sei; mas, por piedade, não queira usar dele para fins impuros e vergonhosos. A escrava também tem coração, e não é dado ao senhor querer governar os seus afetos. — Afetos!... quem fala aqui em afetos?! Podes acaso dispor deles?... — Não, por certo, meu senhor; o coração é livre; ninguém pode escravizálo, nem o próprio dono.
« Et en attendant, si vous seriez plus indulgent avec moi... mais non, c'est trop me rabaisser devant un esclave ; quel besoin ai-je de demander ce qui m'appartient de droit ? Souviens-toi, esclave ingrat et rebelle, que tu m'appartiens corps et âme, à moi seul et à personne d'autre. Vous êtes ma propriété; un vase, que je tiens dans mes mains et que je peux utiliser ou casser à ma guise. « Vous pouvez le mettre en pièces, milord ; Je le sais bien; mais, par piété, ne voulez pas l'employer à des fins impures et honteuses. L'esclave a aussi un cœur, et il n'est pas donné au maître de vouloir gouverner ses affections. — Affections !... qui parle ici d'affections ?! Pouvez-vous en disposer peut-être ?... — Non, certainement, monseigneur ; le cœur est libre ; personne ne peut l'asservir, pas même le propriétaire lui-même.

— Todo o teu ser é escravo; teu coração obedecerá, e se não cedes de bom grado, tenho por mim o direito e a força... mas para quê? para te possuir não vale a pena empregar esses meios extremos. —Os instintos do teu coração são rasteiros e abjetos como a tua condição; para te satisfazer far-te-ei mulher do mais vil, do mais hediondo de meus negros. — Ah! senhor! bem sei de quanto é capaz. Foi assim que seu pai fez morrer de desgosto e maus-tratos a minha pobre mãe; já vejo que me é destinada a mesma sorte. Mas fique certo de que não me faltarão nem os meios nem a coragem para ficar para sempre livre do senhor e do mundo.
— Tout ton être est esclave ; ton cœur obéira, et si tu ne cèdes pas de bon gré, j'ai le droit et la force... mais pourquoi ? pour vous posséder, cela ne vaut pas la peine d'employer ces moyens extrêmes. — Les instincts de ton cœur sont bas et abjects comme ta condition ; pour te satisfaire je ferai de toi la femme du plus vil, du plus odieux de mes nègres. - Oh! Monsieur! Je sais de quoi tu es capable. C'est ainsi que ton père a fait mourir ma pauvre mère de chagrin et de mauvais traitements ; Je vois déjà que le même sort m'est destiné. Mais sois assuré que je ne manquerai ni des moyens ni du courage d'être à jamais libre de toi et du monde.

— Oh! — exclamou Leôncio com satânico sorriso, — já chegaste a tão subido grau de exaltação e romantismo!... isto em uma escrava não deixa de ser curioso. Eis o proveito que se tira de dar educação a tais criaturas! Bem mostras que és uma escrava, que vives de tocar piano e ler romances. Ainda bem que me preveniste; eu saberei gelar a ebulição desse cérebro escaldado. Escrava rebelde e insensata, não terás mãos nem pés para pôr em prática teus sinistros intentos. Olá, André, — bradou ele e apitou com força no cabo do seu chicote.
-Oh! — s'exclama Leôncio avec un sourire satanique, — tu as déjà atteint un si haut degré d'exaltation et de romantisme !... c'est curieux chez un esclave. C'est l'avantage de donner une éducation à de telles créatures ! Vous montrez que vous êtes un esclave, que vous vivez en jouant du piano et en lisant des romans. Je suis content que vous m'ayez prévenu; Je saurai geler l'ébullition de ce cerveau échaudé. Esclave rebelle et insensé, vous n'aurez ni mains ni pieds pour mettre en pratique vos sinistres intentions. Bonjour, André, cria-t-il en sifflotant bruyamment sur le manche de son fouet.

— Senhor! — bradou de longe o pajem, e um instante depois estava em presença de Leôncio. — André, — disse-lhe este com voz seca e breve — traze-me já aqui um tronco de pés e algemas com cadeado. — Virgem santa! — murmurou consigo André espantado. – Para que será tudo isto?... ah! pobre Isaura!... — Ah! meu senhor, por piedade! — exclamou Isaura, caindo de joelhos aos pés de Leôncio, e levantando as mãos ao céu em contorções de angústia; pelas cinzas ainda quentes de seu pai, há poucos dias falecido, pela alma de sua mãe, que tanto lhe queria, não martirize a sua infeliz escrava. Acabrunhe-me de trabalhos, condene-me ao serviço o mais grosseiro e pesado, que a tudo me sujeitarei sem murmurar; mas o que o senhor exige de mim, não posso, não devo fazê-lo, embora deva morrer. "Herr!", rief von weitem der Page und einen Moment später stand er vor Leôncio.
- Monsieur! cria de loin le page, et un instant après il se trouva en présence de Léontius. — André, — dit ce dernier d'une voix sèche et brève — apportez-moi un torse de pieds et des menottes avec un cadenas. — Sainte Vierge ! marmonna André d'étonnement. – A quoi tout cela servira-t-il ?... ah ! pauvre Isaura !... — Ah ! monseigneur, par pitié ! s'écria Isaura, tombant à genoux aux pieds de Leôncio, et levant les mains au ciel dans des contorsions d'angoisse ; pour les cendres encore chaudes de ton père, mort il y a quelques jours, pour l'âme de ta mère, qui t'aimait tant, ne torture pas ton malheureux esclave. Accablez-moi de travail, condamnez-moi au service le plus grossier et le plus lourd, que je me soumette à tout sans murmurer ; mais ce que vous me demandez, je ne peux pas, je ne dois pas le faire, même s'il faut que je meure. "Herr!", rief von weitem der Page und einen Moment später stand er vor Leôncio.

— Bem me custa tratar-te assim, mas tu mesma me obrigas a este excesso. Bem vês que me não convém por modo nenhum perder uma escrava como tu és. Talvez ainda um dia me serás grata por ter-te impedido de matar-te a ti mesma. — Será o mesmo! — bradou Isaura levantando-se altiva, e com o acento rouco e trémulo da desesperação, — não me matarei por minhas próprias mãos, mas morrerei às mãos de um carrasco.
— Cela me fait de la peine de te traiter ainsi, mais tu m'obliges toi-même à cet excès. Tu vois que ça ne me va pas du tout de perdre un esclave comme toi. Peut-être qu'un jour tu me seras reconnaissant de t'avoir empêché de te suicider. "Ce sera pareil !" — cria Isaura, debout hautainement, et avec l'accent rauque et tremblant du désespoir, — je ne me tuerai pas de mes propres mains, mais je mourrai des mains d'un bourreau.

Neste momento chega André trazendo o tronco e as algemas, que deposita sobre um banco, e retira-se imediatamente. Ao ver aqueles bárbaros e aviltantes instrumentos de suplício turvaram-se os olhos a Isaura, o coração se lhe enregelou de pavor, as pernas lhe desfaleceram, caiu de joelhos e debruçando-se sobre o tamborete, em que fiava, desatou uma torrente de lágrimas.
A ce moment André arrive portant le torse et les menottes, qu'il dépose sur un banc, et repart aussitôt. A la vue de ces instruments de torture barbares et avilissants, les yeux d'Isaura s'embuèrent, son cœur se glaça de peur, ses jambes lâchèrent, elle tomba à genoux et penchée sur le tabouret sur lequel elle s'appuyait, elle déchaîna un torrent de larmes. .

— Alma de minha sinhá velha! — exclamou com voz entrecortada de soluços, — valei-me nestes apuros; valei-me lá do céu, onde estais, como me valíeis cá na Terra. — Isaura, — disse Leôncio com voz áspera apontando para os instrumentos de suplício, — eis ali o que te espera, se persistes em teu louco emperramento. Nada mais tenho a dizer-te; deixo-te livre ainda, e fica-te o resto do dia para refletires. Tens de escolher entre o meu amor e o meu ódio. Qualquer dos dois, tu bem sabes, são violentos e poderosos. Adeus!...
— L'âme de ma vieille missha ! — s'écria-t-il d'une voix entrecoupée de sanglots, — j'ai profité de ces difficultés ; Je l'ai utilisé du ciel, là où vous êtes, comme vous m'avez utilisé ici sur Terre. « Isaura, dit Leôncio d'une voix dure en désignant les instruments de torture, voici ce qui t'attend, si tu persistes dans ta folle impasse. Je n'ai plus rien à vous dire ; Je vous laisse encore libre, et vous avez le reste de la journée pour réfléchir. Tu dois choisir entre mon amour et ma haine. L'un ou l'autre, vous le savez bien, est violent et puissant. Au revoir!...

Quando Isaura sentiu que seu senhor se havia ausentado, ergueu o rosto, e levantando ao céu os olhos e as mãos juntas, dirigiu à Rainha dos anjos a seguinte fervorosa prece, exalada entre soluços do mais íntimo de sua alma:
Quand Isaura sentit que son seigneur était absent, elle leva le visage et, levant les yeux et les mains jointes au ciel, adressa à la Reine des anges la fervente prière suivante, exhalée entre les sanglots du plus profond de son âme :

— Virgem senhora da Piedade, Santíssima Mãe de Deus!... vós sabeis se eu sou inocente, e se mereço tão cruel tratamento. Socorrei-me neste transe aflitivo, porque neste mundo ninguém pode valer-me. — Livrai-me das garras de um algoz, que ameaça não só a minha vida, como a minha inocência e honestidade. Iluminailhe o espírito e infundi-lhe no coração brandura e misericórdia para que se compadeça de sua infeliz cativa. É uma humilde escrava que com as lágrimas nos olhos e a dor no coração vos roga pelas vossas dores sacrossantas, pelas chagas de vosso Divino Filho: valei-me por piedade.
— Vierge Dame de Piété, Très Sainte Mère de Dieu !... vous savez si je suis innocente, et si je mérite un traitement aussi cruel. Je me suis aidé dans cette transe afflictive, car dans ce monde personne ne peut m'aider. — Libère-moi des griffes d'un bourreau, qui menace non seulement ma vie, mais aussi mon innocence et mon honnêteté. Illumine son esprit et infuse son cœur de tendresse et de miséricorde afin qu'il ait compassion de son malheureux captif. C'est une humble esclave qui, les larmes aux yeux et la douleur au cœur, te supplie pour tes sacro-saintes douleurs, pour les plaies de ton Divin Fils : aide-moi par pitié.

Quanto Isaura era formosa naquela suplicante e angustiosa atitude! oh! muito mais bela do que em seus momentos de serenidade e prazer!... se a visse então, Leôncio talvez sentisse abrandar-se o férreo e obcecado coração. Com os olhos arrasados em lágrimas, que em fio lhe escorregavam pelas faces desbotadas, entreaberta a boca melancólica, que lhe tremia ao passar da prece murmurada entre soluços, atiradas em desordem pelas espáduas as negras e opulentas madeixas, voltando para o céu o busto mavioso plantado sobre um colo escultural, ofereceria ao artista inspirado o mais belo e sublime modelo para a efígie da Mãe Dolorosa, a quem nesse momento dirigia suas ardentes súplicas. Os anjos do céu, que por certo naquele instante adejavam em torno dela agitando as asas de ouro e carmim, não podiam deixar de levar tão férvida e dolorosa prece aos pés do trono da Consoladora dos aflitos. Absorvida em suas mágoas Isaura não viu seu pai, que, entrando pelo salão a passos sutis e cautelosos, encaminhava-se para ela.
Comme Isaura était belle dans cette attitude suppliante et angoissée ! Oh! bien plus belle que dans ses moments de sérénité et de plaisir !... s'il la voyait alors, Leôncio sentirait peut-être s'adoucir son cœur de fer et d'obsédé. Avec des larmes dans les yeux, qui coulaient sur ses joues fanées, sa bouche mélancolique entrouverte, qui tremblait au passage, la prière murmurée entre les sanglots, les mèches noires et opulentes jetées en désordre sur ses épaules, son buste tendre remontant vers le ciel. plantée sur un giron sculptural, elle offrirait à l'artiste inspiré le plus beau et le plus sublime modèle à l'effigie de la Mère Douloureuse, à qui il adressait en ce moment ses ardentes supplications. Les anges du ciel, qui tournaient certainement autour d'elle en ce moment, agitant leurs ailes d'or et de pourpre, ne pouvaient s'empêcher d'offrir de si ferventes et douloureuses prières au pied du trône de la Consolatrice des Affligés. Absorbée dans ses chagrins, Isaura ne vit pas son père qui, entrant dans la salle d'un pas subtil et prudent, s'avança vers elle.

— Oh! felizmente ela ali está, — murmurava o velho, — o algoz aqui também andava! oh! pobre Isaura!... que será de ti?!... — Meu pai por aqui!... — exclamou a infeliz ao avistar Miguel. — Venha, venha ver a que estado reduzem sua filha. — Que tens, filha?... que nova desgraça te sucede? — Não está vendo, meu pai?... eis ali a sorte, que me espera, — respondeu ela apontando para o tronco e as algemas, que ali estavam ao pé dela. — Que monstro, meu Deus!... mas eu já esperava por tudo isto... — É esta a liberdade que pretende dar àquela que a mãe dele criou com tanto amor e carinho. O mais cruel e aviltante cativeiro, um martírio continuado da alma e do corpo, eis o que resta à sua desventurada filha... Meu pai, não posso resistir a tanto sofrimento!... restava-me um recurso extremo; esse mesmo vai-me ser negado. Presa, algemada, amarrada de pés e mãos!... oh!... meu pai! meu pai!... isto é horrível!...
-Oh! heureusement qu'elle est là, murmura le vieillard, le bourreau ici aussi se promenait ! Oh! pauvre Isaura !... que vas-tu devenir ?!... — Mon père ici !... — s'écria l'infortunée en voyant Miguel. « Allons, venez voir dans quel état votre fille est réduite. — Qu'as-tu, ma fille ?... quel nouveau malheur t'arrive-t-il ? « Tu ne vois pas, mon père ?... c'est la chance qui m'attend », répondit-elle en désignant la malle et les menottes qui étaient là à ses pieds. — Quel monstre, mon Dieu !... mais je m'attendais à tout cela... — C'est la liberté que tu entends donner à celui que sa mère a élevé avec tant d'amour et de soins. La captivité la plus cruelle et la plus dégradante, un martyre continu de l'âme et du corps, voilà ce qui reste à votre infortunée fille... Mon père, je ne puis résister à tant de souffrances !... Il me restait une ressource extrême ; celui-ci me sera refusé. Arrêté, menotté, pieds et poings liés !... oh !... mon père ! mon père !... c'est horrible !...

— Meu pai, a sua faca, – acrescentou depois de ligeira pausa com voz rouca e olhar sombrio, – preciso de sua faca. — Que pretendes fazer com ela, Isaura? que louco pensamento é o teu?... — Dê-me essa faca, meu pai; eu não usarei dela senão em caso extremo; quando o infame vier lançar-me as mãos para deitar-me esses ferros, farei saltar meu sangue ao rosto vil do algoz. — Não, minha filha; não serão necessários tais extremos. Meu coração já adivinhava tudo isto, e já tenho tudo prevenido. O dinheiro, que não serviu para alcançar a tua liberdade, vai agora prestar-nos para arrancar-te às garras desse monstro. Tudo está já disposto, Isaura. Fujamos. — Sim, meu pai, fujamos; mas como? para onde? — Para longe daqui, seja para onde for; e já, minha filha, enquanto não suspeitem coisa alguma, e não te carregam de ferros. — Ah! meu pai, tenho bem medo; se nos descobrem, qual será a minha sorte!...
— Mon père, votre couteau, — ajouta-t-il après un léger silence d'une voix rauque et d'un regard sombre, — j'ai besoin de votre couteau. — Que comptez-vous faire d'elle, Isaura ? quelle folle pensée as-tu ?... — Donne-moi ce couteau, mon père ; Je ne m'en servirai que dans un cas extrême ; quand l'homme infâme viendra mettre la main sur moi pour mettre ces fers sur moi, je ferai couler mon sang sur le visage ignoble du bourreau. - Pas ma fille; de tels extrêmes ne seront pas nécessaires. Mon cœur a déjà deviné tout cela, et j'ai déjà tout compris. L'argent, qui n'a pas été utilisé pour obtenir votre liberté, va maintenant nous prêter à vous arracher des griffes de ce monstre. Tout est prêt, Isaura. Courons. — Oui, mon père, fuyons ; mais comment? où? « Loin d'ici, où que vous alliez ; et maintenant, ma fille, pendant qu'ils ne se doutent de rien, et qu'ils ne te chargent pas de chaînes. - Oh! mon père, j'ai vraiment peur; s'ils nous découvrent, quelle sera ma chance !...

— A empresa é arriscada, não posso negar-te; mas ânimo. Isaura; é nossa única tábua de salvação; agarremo-nos a ela com fé, e encomendemo-nos à divina providência. Os escravos estão na roça; o feitor levou para o cafezal tuas companheiras, teu senhor saiu a cavalo com o André; não há talvez em toda a casa senão alguma negra lá pelos cantos da cozinha. Aproveitemos a ocasião, que parece mesmo nos vir das mãos de Deus, no momento em que aqui estou chegando. Eu já preveni tudo.
— L'entreprise est risquée, je ne peux pas le nier ; mais courage. Isaura ; c'est notre seule bouée de sauvetage; tenons-y avec foi et confions-nous à la providence divine. Les esclaves sont dans les champs ; le contremaître a emmené vos compagnons à la plantation de café, votre maître est parti à cheval avec André ; il n'y a peut-être pas une seule femme noire dans toute la maison dans les coins de la cuisine. Profitons de l'occasion, qui semble venir des mains de Dieu, alors que j'arrive ici. J'ai déjà tout empêché.

Lá no fundo do quintal à beira do rio está amarrada uma canoa; é quanto nos basta. Tu sairás primeiro e irás lá ter por dentro do quintal; eu sairei por fora alguns instantes depois e lá nos encontraremos. Em menos de uma hora estaremos em Campos, onde nos espera um navio, de que é capitão um amigo meu, e que tem de seguir viagem para o Norte nesta madrugada. Quando romper o dia, estaremos longe do algoz que te persegue. Vamo-nos, Isaura; talvez por esse mundo encontremos alguma alma piedosa, que melhor do que eu te possa proteger. — Vamo-nos, meu pai; que posso eu recear?... posso acaso ser mais desgraçada do que já sou?...Isaura, cosendo-se com a sombra do muro, que rodeava o pátio, abriu o portão, que dava para o quintal, e desapareceu. Momentos depois Miguel rodeando por fora os edifícios costeava o quintal, e achava-se com ela à margem do rio. A canoa vogando sutilmente bem junto à barranca, impelida pelo braço vigoroso de Miguel, em poucos minutos perdeu de vista a fazenda.
Au fond de la cour, au bord de la rivière, un canot est amarré ; cela nous suffit. Vous sortirez d'abord et entrerez dans la cour; Je sortirai quelques instants plus tard et nous nous retrouverons là-bas. Dans moins d'une heure, nous serons à Campos, où un navire nous attend, commandé par un de mes amis, qui doit naviguer vers le nord ce matin. Quand le jour se lèvera, nous serons loin du bourreau qui te poursuit. Allons-y, Isaura; peut-être trouverons-nous en ce monde quelque âme pieuse qui, mieux que moi, pourra te protéger. — Allons, mon père ; de quoi puis-je avoir peur ?... pourrais-je être plus malheureuse que je ne le suis déjà ?... Isaura, se cousant à l'ombre du mur qui entourait la cour, ouvrit la porte qui menait à la cour, et disparu. Quelques instants plus tard, Miguel, se promenant à l'extérieur des bâtiments, contourna l'arrière-cour et se retrouva avec elle sur la berge. Le canot dérivait subtilement près de la berge, propulsé par le bras puissant de Miguel, et en quelques minutes perdit de vue la ferme.



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